quinta-feira, 15 de novembro de 2012

‘Comportadas’, grifes evangélicas lucram com público segmentado



Em meio ao competitivo mercado da moda, a confecção de Fabrício Guimarães Pais tem visto sua produção crescer cerca de 20% a cada ano. O segredo do empresário foi encontrar o público certo.
Fabrício Pais, diretor da Kauly Moda Evangélica, que, no início, vendia apenas 'modinha' (Foto: Anay Cury/G1) (Foto: Anay Cury/G1)
Assim como Pais, empresários do ramo de confecção têm investido cada vez mais na moda evangélica, atendendo à mulher que antes tinha de procurar em lojas não especializadas roupas que correspondessem ao estilo exigido pela maioria das igrejas: mais comportado, porém, não menos sofisticado.
“A gente conseguiu achar esse mercado, que é um mercado inovador, que muita gente procurava essa moda, mas que quase ninguém fabricava. Um pouco, acho, por medo. (…) Todo mundo tem um pouco de medo de fazer um foco só, direcionado, e a roupa não vender. No nosso caso, poderia ter dado tudo errado”, conta Pais.
Nas mãos dessas confecções brasileiras, o que poderia ser encarado como limitação se transforma em estímulo para criar peças cada vez mais modernas, sem deixar de obedecer às regras de vestimenta dos evangélicos, que, embora tenham algumas variações, dependendo da igreja, vetam calças, decotes e transparências. De acordo com os dados mais recentes do IBGE, com base no Censo de 2000, a população de evangélicos do país era de 26,18 milhões.

Outros empresários viram na necessidade da própria família uma oportunidade de negócio. Sabendo que a principal queixa das mulheres era encontrar roupas adequadas às exigências, mas com estilo, a Stylo Moda Gospel 1000 investe no mercado de moda gospel.
moda evangélica (Foto: Editoria de Arte/G1)
“A necessidade de segmentação vem se intensificando nos últimos anos. As mulheres evangélicas tinham muita dificuldade para conseguir roupas no estilo que precisavam e desejavam, porque a mulher evangélica também quer ficar bonita, na moda, quer frequentar os cultos bem vestidas. Ser vaidosa não é negativo”, diz Selma Felerico, coordenadora da pós-graduação na área de Comunicação da ESPM, especializada em estudos sobre o público feminino.
Cantora Damares (Foto: Divulgação)Cantora Damares (Foto: Divulgação)
A cantora Damares é um exemplo de evangélica que gosta de se vestir bem e estar na moda. “Meu estilo é clássico, mas diferente, com um toque pessoal. No meu caso, compro as roupas prontas ou mando fazer, dependendo da ocasião. Já até recebi umas propostas para lançar uma marca de roupas evangélicas e sapatos”, conta.
Pensando nisso, a Stylo Moda Gospel 1000  tem à disposição do público evangélico roupas específicas para a mulher evangélica.
Ivove Gonçalves é dona da Raje, uma das mais antigas confecções de moda evangélica em São Paulo (Foto: Anay Cury/G1) (Foto: Anay Cury/G1)
Na busca por estampas e cores que estarão nas lojas nas próximas estações, as equipes de estilistas das confecções viajam a feiras de moda em outros países e participam de todas as semanas de moda realizadas no Brasil.
Jonhson Cavalcanti, que traz o design de moda festa em experiências anteriores (Foto: Anay Cury/G1)(Foto: Anay Cury/G1)
“A gente faz uma pesquisa ampla de estamparia, de tecido para adaptar à moda evangélica. Buscamos inspiração em Fashion Week, em feiras do setor. Eu ando muito, então, vou vendo o que está acontecendo no dia a dia, nos filmes, nas músicas, até nos jornais”, disse o estilista Jonhson Cavalcanti, que traz o design de moda festa em suas experiências anteriores.
Hoje, os três principais canais de venda das confecções evangélicas são lojas físicas, revenda e internet, cuja procura tem sido cada vez maior. “Pela internet, economizo tempo e adquiro peças que geralmente não encontro por aqui. Nem sempre os tamanhos dão certo, mas, no meu caso, sempre encontro alguém em que caiba e nunca devolvi nenhuma peça”, disse a policial civil Maria de Fátima Costa da Silva, 51 anos, de Natal (RN).
Maria Aparecida Gusmão da Silva só compra suas roupas em lojas especializadas em moda evangélica (Foto: Anay Cury/G1)Maria Aparecida Gusmão da Silva só compra suas
roupas em lojas especializadas em moda
evangélica (Foto: Anay Cury/G1)
Thais Cristina Barbosa, 26 anos, é de Osasco, região metropolitana de São Paulo, trabalha com moda evangélica há quatro anos e meio e revende roupas de oito marcas. No início, trabalhava sozinha. Porém, teve de pedir ajuda para o marido, para a irmã e para a cunhada. No primeiro mês em que começou a vender, tinha cinco clientes e, um ano depois, esse número já tinha subido para 180.
Do total de clientes que Thais atende hoje – ela não revelou o número – 10% não são evangélicas. E é esse filão que muitas empresas também querem atingir. “São mulheres que trabalham em banco, escritório, por exemplo, e que querem roupas bonitas, mas mais discretas, na altura do joelho.” O vestido mais barato que Thais vende, na altura do joelho, sai por R$ 180. “É muito difícil achar coisas que sejam discretas, mas de bom gosto. Eu mesmo passei por isso no início. Agora não, uso as roupas que gosto e faço até marketing”, conta.
Como as roupas costumam cobrir ombros e pernas, muitas mulheres que usam tamanhos grandes e que, independentemente de serem evangélicas ou não, não gostam de mostrar os braços, por exemplo, têm recorrido aos modelos desse tipo de moda. 
Leila Fonseca, consumidora de Guarulhos, e Thais Barbosa, revendedora de oito marcas evangélicas  (Foto: Arquivo pessoal)
Leila Fonseca, consumidora ... e Thais
Barbosa... (Arquivo pessoal)
Tamanho aumento da quantidade de confecções que estão sendo abertas – ainda não há dados oficiais -, muitas empresas chegam a se queixar e até começam a reduzir a produção neste início de ano. 
“Segmentação é, sem dúvida, uma tendência, como vem sendo desde os anos 1980, na época em que surgiram as surf shops. O risco que se corre é quanto à administração dos negócios, saber onde você está investindo. Onde eu me comunico com meu público? Nesse caso das lojas de surf, a maioria quebrou por não ter sido bem administrada.”
Consumidora observa modelos de moda evangélica na região do Brás, em São Paulo (Foto: Anay Cury/G1)
Consumidora observa modelos de moda evangélica (Foto: Anay Cury/G1)
Para os próximos anos, a coordenadora da pós em Comunicação da ESPM afirma que o universo infantil deverá ganhar mais atenção da moda evangélica. “Era uma coisa muito necessária [a moda evangélica]. Cresceu e vai continuar crescendo”, diz Selma.

Fonte : G1 

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